Monday, June 20, 2005

O (es)pasmo da habituação

Boas tardes, leitores.

É com mágoa e algum sentimento de confusão que o Inspector Serra sente que parece que já nada surpreende, indigna ou revolta um português.

Quer dizer, muitas das vezes o tuga revolta-se mas ou por razões completamente idiotas ou erradas, ou, mesmo que seja por uma razão plausível, pensa que um insulto duro e veemente – um bom “Vai para o c*ralho, ò filho da p*ta!” - corrige a situação e pensa para com os seus botões “Este da próxima vez já vai pensar duas vezes antes de ultrapassar pela direita!”.

O espaço para a indignação institucionalizou-se. Parece-nos normal a existência de um drogado em cada local de estacionamento vago e o pagamento de 50 cêntimos como um pagamento justo para o serviço que prestou ao assinalar o lugar com o receio de riscar a pintura metalizada que tanto orgulho nos dá. Ou seja, pactuamos com o criminoso damos-lhe uma palmadinha nas costas e, às vezes, há quem ainda lhe peça desculpa por só ter 30 cêntimos ao que o agarrado faz ar de mau e, qual autoridade nacional, ainda diz “Vá lá… desta passa…”.

Mas o que é isto??? O mesmo tipo que passa por um velho doente ajoelhado na rua e olha para o céu enquanto passa com desdenho e superioridade está ali, qual cordeirinho, a pedir desculpas ao “Rei do parking lot” para não lhe riscar o popó. Mas onde está a lei? Apenas onde está o Inspector Serra???

Outro evento que arreliou a revolta ao Inspector Serra foi uma exposição qualquer de carros que alguns labregos se lembraram de fazer lá para o Norte de modo a mostrarem orgulhosamente os seus Fiat 600 e Dyanes… Enfim… houve lá um mestre carpinteiro que aproveitou um desses chaços e fez a carroçaria toda em madeira.

Entretanto, vê-se na televisão, o mano a guiar, todo satisfeito, pelo IP5 a apitar alegremente… Ora vamos lá ver… um tipo é multado por não ir à inspecção, por não ter o colete, por não ter os pneus do diâmetro que está no livrete, enfim… 1001 coisas… E vemos o outro gebo a passear-se no carrinho de nogueira feito pelo Gepeto e está tudo bem… é giro… até o comum dos tugas, enquanto bebe a sua cervejinha e está de manga de alças branca abancado no sofá em vez de pensar “Mas o qué esta merda? Eu sou multado por não ter o selo e este gajo anda a conduzir uma coisa que tem galhos no para-choques?” não… já o estou a ver a gritar para a cozinha “ò Maria, anda cá ver isto!!!”

Olha que porra hem… é este o país que temos? É para isto que um gajo anda a apertar o cinto?

Colegas da PJ, toca a perseguir estas situações a que nos acostumámos mas a que tem de ser posto cobro e rapidamente. É que a habituação em excesso leva ao vício e esse, em massa, ninguém o remove!

Comece-se por meter os agarrados a trabalhar e pegar fogo ao carrinho de rolamentos do labrego marceneiro.

Sejamos sérios,
Serra

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